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sábado, março 27, 2004

SOPA DE QUÊ MESMO?


"How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.

Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd."
- Alexander Pope, "Eloisa to Abelard"


E se você pudesse? Você faria? Eu digo, se isso fosse realmente possível, num futuro próximo, ou quem sabe amanhã, depois do café. Ou agora mesmo, ali na frente do correio. É tarde, eu sei, mas é possível. Você faria?
Você apagaria da sua mente memórias doloridas? Você tiraria da sua história o sofrimento e a dor? O que somos nós senão o produto de tudo isso, dessa sopa de fatos, momentos, pessoas, cores, cheiros e dores. Alegrias que só são alegrias porque temos parâmetros. Valores. Valorizar requer comparação, requer referência, requer um antes, um passado, uma história. Apagar coisas da memória parece tentador? Pense bem. Cada segundo da sua vida foi maravilhosamente bom ou cretinamente ruim? Você saberia distinguir e dualizar tudo? O bem e o mal, o bom e o ruim. Cartesiano o suficiente pra você? Quadradinho, cercadinho, delimitado. Acho que não. Não mesmo. Falo por mim, mas falo. Quero a vida assim, com o preto e o branco, com o amargo e o doce, com o que dói e com o que faz o coração bater mais forte. Cada tombo da infância, cada frase não dita, cada escorregada da língua. Quero sim, isso tudo, os cheiros que me fazem fechar o nariz e franzir a testa, os perfumes que me fazem fechar os olhos e sonhar, os livros que me arrancaram lágrimas e os que rasguei e amaldiçoei por toda a eternidade. Os inimigos. Quero esses também. Intactos. Porque como valorizar os amigos, como aprender a se defender, como ficar mais forte se não for apanhando deles, dos inmigos. Quero sim os inimigos. Funerais. Aqueles que já se foram daqui e nos fazem sofrer em silêncio com sua lembrança. Quero sim, quero mesmo. Porque da vida não se leva nada, mas se deixa muito e quão ingratos seríamos se baníssemos os que já se foram de nossa memória. Afinal, não são seus sorrisos, conselhos atos e afetos que nos movem muitas vezes? Deixe-os aqui.
E os amores, ah, os amores. Os amores que foram em paz, os que sumiram na neblina dos anos, e também os que me amedrontam, os que me perseguem. Os amores mal resolvidos, vividos ao não vividos. E os que foram e voltaram. Amores retornados, fortalecidos. Por estes meus caros, se necessário eu preservaria as maiores dores de minha existência. Porque o que seria da magia do reencontro, sem a clareza da dor pela solidão vivida?
E agora? Me diz se você faria...

 

Esta sopa ficou pronta às 12:24 AM

 



SOPA






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