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quarta-feira, março 31, 2004

COMO SER UM BLOGUEIRO "JERK"


Eu não me lembro quando, mas dia desses li em algum lugar que a Paris Hilton, o Michael Jackson e a Britney Spears, devidamente trajada em sua ligerie novinha comprada na Victoria's Secret ouviam Tupac Shakur na casa de Jennifer Lopez para animá-la depois do fim (finalmente) de seu relacionamento com Ben Afflec. Christina Aguilera não quis ouvir música com eles, e por conta da inimizade com Britney, resolveu ficar em casa com Jonathan Brandis (seja lá quem ele for) ouvindo uma seleção de sons do Eminem, 50 Cent e Linkin Park que ela baixou no Kazaa. Na tv, zapeadas entre um filme do Harry Potter, a final do NFL, um clipe da Beyonce Knowles com o Nelly, um documentário sobre a Pamela Anderson, e mais um monte de porcarias distraiam o grupinho que na verdade queria mesmo era assistir ao BBB4.

O post não faz sentido, eu sei. E é tudo mentira, aliás. Mas tem gente que faz disso uma arte. A arte de ser um blogueiro canalha. A arte de encher seu site de visitas sem valor, a arte de aumentar números, de desviar tráfego... Explico e dou exemplo, em breve, com os gráficos. Agora são seis da tarde, ou oito da noite, dependendo onde você está. Acabo de publicar um post sem nexo, incluindo as palavras chaves mais procuradas na internet no dia de hoje, excluindo sexo (oops!). Isso tem o poder de direcionar um monte de gente - que só por acaso não está nem um pouco interessada no seu blog ou no que você escreve e tá a fim mesmo é de saber dessas figuras aí de cima - para a sua baia... Observei isso há algum tempo, com blogueiros que são fiéis seguidores da linha "palavras-chave" e do infeliz método de multiplicação de visitas, replicando à exaustão os assuntos da hora, mesmo que estes não tenham o menor interesse para a maioria de seus leitores. Observe e verás. Julgue, se quiser. Mas que funciona, funciona, se números são importantes pra você. Pronto está lançada a brincadeirinha que me fará merecer o sincero elogio que recebi junto com toda a humanidade dia desses: somos todos hipócritas. E nem esquente a cabeça... Sim, eu tive um dia mais ou menos ruim e estou no espírito: a humanidade não presta. Mas já passou.

ps.: Adicione a isso, isso: mp3 - hotmail - games - yahoo - cars - music - warez - travel - ebay - chat -pokemon - britney spears - napster - maps - lyrics - jokes - real estate - dictionary - health - winzip - weather - hotmail.com - autos - Jennifer Lopez - wallpaper - Shopping - jobs - yahoo.com - science fair project - search engines - qxapoiu - www.hotmail.com - apartments - snes roms - icq - Madonna - movies - careers - horoscopes - greeting cards - Britney Spears - winamp - song lyrics - chat rooms - gnutella - horoscope - clip art - computer - sublime directory - free games, e verás... ou veremos. Eu tô malvado demais!!! Ah, e metade das visitas nem "falar nossa língua..."

 

Esta sopa ficou pronta às 8:13 PM

 

CONVERSA DE BOTAS BATIDAS


"Veja você onde é que o barco foi desaguar, a gente só queria o amor... Deus parece às vezes se esquecer; Ai, não fala isso, por favor. Esse é só o começo do fim da nossa vida. Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida que a gente vai passar. Veja você, quando é que tudo foi desabar, a gente corre pra se esconder... e se amar, se amar até o fim, sem saber que o fim já vai chegar... Deixa o moço bater que eu cansei da nossa fuga. Já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas não ter o seu lugar. Abre a janela agora, deixa que o sol te veja. É só lembrar que o amor é tão maior, que estamos sós no céu. Abre as cortinas pra mim que eu não me escondo de ninguém. O amor já desvendou nosso lugar e agora está de bem. Deixa o moço bater que eu cansei da nossa fuga. Já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas não ter o seu lugar. Diz quem é maior que o amor? Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora. Vem, vamos além. Vão dizer que a vida é passageira, sem notar que a nossa estrela vai cair." .pelo poeta, marcelo camelo.

 

Esta sopa ficou pronta às 3:06 AM

 

terça-feira, março 30, 2004

O MILAGRE

Refogo numa panela média três xícaras de cogumelos. Acrescento sal, pimenta e meia xícara de vinho branco. Cebola picada, muita, e meio litro de leite.
Fervo, fervo, fervo. Até virar um creme. Queijo parmesão. Fervo mais. Liquidifico tudo por 5 minutos. Sirvo meu creme de cogumelos com cebola e preparo-me para saboreá-lo. Eis que vejo surgir boiando em meu prato um singelo cogumelo. Intacto. Ileso. Imaculado. Sobrevivente do massacre do liquidificador. Após analisá-lo à procura de lesões corporais observo que realmente ele não sofreu nenhuma injúria. A raiva me consome! Esse pensa que é mais um imortal pertencente ao clã dos McLoud. Num ato final de maldade, devorei-o-o. Miserável, pensa o quê!?

 

Esta sopa ficou pronta às 11:25 PM

 

DIREITOS AUTORAIS E A INTERNET MARAVILHA


Acabo de realizar a negociação de direitos autorais mais rápida da minha vida, envolvendo três pessoas, representando três instituições diferentes localizadas respectivamente, aqui, em Buffalo, nos EUA e em Chicago, idem. Entre solicitar a autorização para reproduzir um trecho em um capítulo de livro que estou escrevendo para o autor e obter a confirmação do editor dele com direito a carta de autorização enviada por fax com a assinatura do editor, aqui, na minha mesa, levou apenas 37 minutos! Estou impressionado! E o "fax" chegou em pdf, via-email, ou seja: tudo via web. Eu adoro essa rede e a agilidade que ela nos proporciona. Em outros tempos, isso levaria no mínimo uma semana. Três vivas pra internet: Viva! Viva! Viva! E para seus inventores, é claro.

 

Esta sopa ficou pronta às 4:57 PM

 

CONFESSIONS OF A NOT SO DANGEROUS MIND

Tá, essa é complicada de digerir, mas lá vai. Ás vezes eu tenho uns pensamentos doidos. Eu sei, todo mundo tem, é normal. Meu psiquiatra já me disse isso. Estou quase convencido. Mas eu tenho a impressão de que a qualquer momento eu vou levar um desses a cabo. Hoje tive vontade de confessar para um desconhecido um crime que eu não cometi, que está no jornal que a figura está lendo, algo do tipo: "fui eu quem fez isso". E sair rindo... Muitas vezes tenho vontade de dar um soco num desconhecido no meio da rua. nunca dei, e acho que nunca vou dar, não sem motivo. Mas tenho vontade. Também tenho vontade de caminhar por cima dos carros estacionados. Por cima mesmo: capô, teto, porta-malas, capô, teto, porta-malas, capô, teto, porta-malas, capô, banco da frente, banco de trás, porta-malas (era um conversível...)
É isso.

 

Esta sopa ficou pronta às 2:12 PM

 

ABSURDOS


Chego ao trabalho e vejo que a agenda marca o aniversário de uma amiga. Vou mandar um e-mail, abro minha caixa de mensagens e descubro que um "amigo" em comum não só mandou um e-mail desejando feliz aniversário pra ela me enviando uma cópia aberta, como se desculpou por mim por eu não mandar notícias... Pode? Não sei nem o que dizer...

 

Esta sopa ficou pronta às 12:51 PM

 

segunda-feira, março 29, 2004

TEMPO, TEMPO


As coisas que a gente não fez então, não fez, e pronto. O tempo passou e passa. Está passando agora, na verdade, a cada toque neste teclado... Assustador. Seria bom se a gente pudesse pegar coisas que está fazendo agora a colocar em períodos de ócio passados, num tipo de desfragmentação do disco da vida, me entendem? Por exemplo, hoje eu estou aqui, trabalhando mas querendo estar em outro lugar fazendo outra coisa. Porque não poder pegar isso, essas tarefas de agora e transportar para aqueles 15 dias de chuva que eu passei na casa de praia em 1988, sem um maldito baralho, sem namorada, sem tv a cabo...? Seria tão bom o eu da época ficaria feliz por poder se ocupar e o eu de agora ia poder fazer o que não pode porque não tem tempo. Tá, eu sei, se fosse assim o eu de hoje não seria o eu de hoje, embora eu custe muito a acreditar que aqueles dias enfurnado numa cidade vazia e alagada tenham tido alguma influência na minha vida. De mais a mais isso tudo não faz o menor sentido porque estou partindo de uma hipótese fictícia e impossível. E também sabemos pelos filmes de viagem no tempo que essas coisas nunca acabam bem. Esquece.

 

Esta sopa ficou pronta às 4:50 PM

 

SOPÃO


E a foto que me levou a tudo isso. Boa noite mesmo.

 

Esta sopa ficou pronta às 2:02 AM

 

SOPA DA MADRUGADA

Conversas divertidas no msn. Fui de filho da Hebe a correspondente de um jornal vivendo no sul do Paquistão. Domingo fictício pra esconder de mim mesmo o quão foda é essa solidão toda. Dois filmes digeridos no dvd, mais um e meio na tv, coisa rara (eu assitir a só meio filme). Nem olhei pro meu livro, sem remorso. Cozinha, louça, caminhada até a locadora no solzinho da tarde. Isso foi bom. As conversas no msn e os telefonemas do dia também. Um e-mail de um amigo. Bom também. Agora é dormir e encarar mais uma semana. De volta a academia depois de três semanas baleado... Sexta-feira tenho casamento para ir. No mais, só não entendo como eu seguro essa onda... ou por quê. Boa noite.

 

Esta sopa ficou pronta às 1:53 AM

 

domingo, março 28, 2004

FASHION FOR GUYS

Tem coisas que nem fodendo: camisa pólo, de manga curta, com gravata e terno com havaianas. A menos que você esteja mesmo numa página de revista. Já fui a festas onde vi gente assim, gente que se acha bacana. Bacaníssima é a oportunidade de olhar pro cara e ver aquele dedo do pé saltando havaina a fora. Essas sobreposições até são engolíveis (existe isso?) como uma camiseta de manga longa com uma curta por cima. Mas aí o malandro tem que ser malandro mesmo, senão ele não segura a onda do figurino. As camisas pólo sobrepostas, pra mim já são um pouquinho demais. Acredito que uma "produção" tem que ser no mínimo justificável. Prá que duas camisetas? Não, não, não... E partindo da teoria do justificável: havainas com terno... a explicação seria algo no melhor estilo: "olha eu tava a fim de me vestir bem, mas tô com um fungo no meu pé que precisa respirar, então resolvi colocar esse chinelinho!" Sinceramente as revistas de moda pra caras são difíceis de encarar. O terno prateado do Gaultier, e a calça verde lima do Lauren estão... de morte. E quando eu morrer não esqueçam disso: sapatos, por favor.

 

Esta sopa ficou pronta às 10:30 PM

 

GÊNERO

Tenho esse habito, já arraigado que foi desenvolvido fazem alguns anos, de fazer coisas sozinho. Não por falta de companhia, nem por egoísmo, mas simplesmente pelo fato de estar sozinho, quieto ou não, de poder falar com estranhos, de fazer as coisas sem muita lógica ou roteiro. Ontem fui pra balada solito. Divertido? Algumas coisas sim. Porque quando você sai sozinho, coisas acontecem com mais frequência, mesmo que você não esteja prá jogo... Por exemplo, fui abordado pela única heterossexual de um animado grupo de 10 lésbicas. Ela era simpática, mas loira (não gosto... especialmente das muito, muito brancas... Comemorem, porque estou deixando mais pra vocês, que estão com a preferência mundial.) Mas o assunto não é a loira, é a questão do gênero. Já me desculpo por classificar o grupo de lésbicas de "animado" porque isso não existe. Acho, porque no grupo sempre tem as que fazem o gênero "muitomacho" e que já te olham atravessado de primeira, coçam o "saco" e pigarreiam apagando o cigarro no chão. Me metem medo. Nada contra as lésbicas, tenho uma amiga lésbica divertidíssima que concordou com essas observações dia desses e ainda acresentou que esse esteriótipo é recorrente e muito, muito característico. Não existe a lésbica macho modelo Klark Gable, só existe esse modelo Charles Bronson, de cigarro na boca, um olho meio fechado, mão no bolso, escorada no bar encarando a mulherada com cara de priápico e pronta a dar um soco no primeiro cara que se achar mais homem que ela. Mas até aí tudo bem. Brinquei com a loira que a amiga dela estava com ciúmes de mim, expliquei que era um cara comprometido quando a conversa tomou rumos menos amenos e rimos um pouco antes de uma despedida cordial sem o fatídico numero do telefone. Achei melhor não mencionar que mesmo que eu estivesse no mercado, ela não fazia o meu tipo, mas achei melhor deixar a menina ir dormir feliz. Depois um babaca com um diskman nas orelhas vem me perguntar se eu moro por ali, que ele tinha arrumado duas meninas pra comer e me ofereceria uma caso eu tivesse um lugar para "a gente" levar elas. Um babaca homeless. Me desvencilhei e sai dali. Tem coisas que não vale a pena descrever em maiores detalhes. A seguinte cena se passa no segundo bar, na verdade um anexo do primeiro, que eu estranhamente ainda não conhecia. Depois de ver R., a criatura mais sem-nexo-noção que eu conheço na noite, saltitando desesperadamente ao som de uma música de comercial de vassoura fui parcialmente abordado por duas meninas. Na verdade dois meninos que piscavam os olhinhos pra mim e juntavam as mãozinhas com os bracinhos esticados ao longo do corpo. Cena que mulher nenhuma desde 1950 desempenharia, a menos que fosse lesa das idéias. Pressionei meus lábios um contra o outro e com um sorriso simpático fiz que não com a cabeça antes que eles viessem puxar papo... E daí comecei a matutar o porquê desse extremismo dos esteriótipos, dos modelos de conduta do outro gênero. Sinceramente, o nível etílico era demais e não consegui concluir nada. R. veio conversar comigo, se apresentou, (estava muito alterada...) e eu expliquei que a gente já tinha conversado um dia desses (na verdade pouco mais de duas semanas atrás). Ela não lembrava, mas me achou simpático, como da primeira vez. Acho que ela é louca... Mas pelo menos é consistente na sua loucura. Sabe aquelas pessoas que você não consegue imaginar à luz do sol? É ela. Conversamos com pudemos, não consegui entender se ela tinha cheirado ou se estava ligada de extasy, mas certamente não estava em estado fisiológico normal daí o papo sem nexo. Ela me disse que precisava dançar de novo e sumiu no meio da pista. Resolvi ir pra casa, sob os olhares ainda piscantes de um dos meninos. Tentei pensar mais um pouco sobre a minha tese dos esterótipos extremados mas estava cansado, só conseguia pensar na minha cama e sentir um pouco de saudades Dela, como sempre. Mais uma noite dormindo sozinho, seguida de uma manhã de ressaca leve. Preciso comer alguma coisa.

 

Esta sopa ficou pronta às 1:48 PM

 

sábado, março 27, 2004

DAS FRIGIDEIRAS E OUTRAS UTILIDADES


Uma boa frigideira tem seu valor. O prazer de colocar um ovo nela e fritá-lo sem uma gota de óleo, em segundos, sem aquela aderência sem fim. Isso não tem preço. Acordar sem o despertador, com o sol encomodando pelas frestas da janela é a segunda melhor forma de acordar. Mas quem não tem cão, caça com gato. Ou sol, neste caso. Se bem que chamar o sol de utilidade é blasfêmico. Pardon moi. O telefone. Um telefonema de alguém que está longe, inesperado, naquela hora em que você acha que está hiper-ocupado, mas instantaneamente esquece, mergulha num outro mundo e ouve com prazer. Ou melhor, deita na cama, fecha a porta pra que nem a torneira pingando na cozinha te atrapalhe e fala. E ouve. E sente a respiração do outro lado. O riso, o prenúncio do choro. A saudade. E conta como foi o dia, o que pensou, o que falou. O que não falou. Confessa. Ri. Faz piada. Chora, disfarçando. Fica em silêncio. Silêncio. O silêncio entre duas pessoas que se amam tem uma outra forma, um outro sentido. Um silêncio bom, que diz tudo e clarifica tudo. Silêncios não-constrangedores. Silêncios do bem. Mesmo por telefone, sem olhos nos olhos, sem toque. O silêncio cura. O silêncio, como uma utilidade não-pública. O silêncio a dois.

"Eu não nego, eu me entrego, você é meu grande amor
E hoje eu vou te dizer "eu te amo".
Eu lhe imploro, eu te adoro, você tem meu coração
a bater pra você mais uma canção."
mais uma canção - camelo/amarante

 

Esta sopa ficou pronta às 1:03 PM

 

SOPA DE QUÊ MESMO?


"How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.

Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd."
- Alexander Pope, "Eloisa to Abelard"


E se você pudesse? Você faria? Eu digo, se isso fosse realmente possível, num futuro próximo, ou quem sabe amanhã, depois do café. Ou agora mesmo, ali na frente do correio. É tarde, eu sei, mas é possível. Você faria?
Você apagaria da sua mente memórias doloridas? Você tiraria da sua história o sofrimento e a dor? O que somos nós senão o produto de tudo isso, dessa sopa de fatos, momentos, pessoas, cores, cheiros e dores. Alegrias que só são alegrias porque temos parâmetros. Valores. Valorizar requer comparação, requer referência, requer um antes, um passado, uma história. Apagar coisas da memória parece tentador? Pense bem. Cada segundo da sua vida foi maravilhosamente bom ou cretinamente ruim? Você saberia distinguir e dualizar tudo? O bem e o mal, o bom e o ruim. Cartesiano o suficiente pra você? Quadradinho, cercadinho, delimitado. Acho que não. Não mesmo. Falo por mim, mas falo. Quero a vida assim, com o preto e o branco, com o amargo e o doce, com o que dói e com o que faz o coração bater mais forte. Cada tombo da infância, cada frase não dita, cada escorregada da língua. Quero sim, isso tudo, os cheiros que me fazem fechar o nariz e franzir a testa, os perfumes que me fazem fechar os olhos e sonhar, os livros que me arrancaram lágrimas e os que rasguei e amaldiçoei por toda a eternidade. Os inimigos. Quero esses também. Intactos. Porque como valorizar os amigos, como aprender a se defender, como ficar mais forte se não for apanhando deles, dos inmigos. Quero sim os inimigos. Funerais. Aqueles que já se foram daqui e nos fazem sofrer em silêncio com sua lembrança. Quero sim, quero mesmo. Porque da vida não se leva nada, mas se deixa muito e quão ingratos seríamos se baníssemos os que já se foram de nossa memória. Afinal, não são seus sorrisos, conselhos atos e afetos que nos movem muitas vezes? Deixe-os aqui.
E os amores, ah, os amores. Os amores que foram em paz, os que sumiram na neblina dos anos, e também os que me amedrontam, os que me perseguem. Os amores mal resolvidos, vividos ao não vividos. E os que foram e voltaram. Amores retornados, fortalecidos. Por estes meus caros, se necessário eu preservaria as maiores dores de minha existência. Porque o que seria da magia do reencontro, sem a clareza da dor pela solidão vivida?
E agora? Me diz se você faria...

 

Esta sopa ficou pronta às 12:24 AM

 

sexta-feira, março 26, 2004

VÍRUS VIRULENTO


Estranhos e-mails aportam na minha caixa de entrada. E-mails vazios no nome de amigos que ha muito não me escrevem nem pra mandar piadinha ou corrente. A mensagem vem com os estranhos dizeres "on behalf of fulanodetal@tal.isso.mesmo" no remetente... e vem quieto e de mãos abanando, sem assunto, sem arquivo atachado. Virús silencioso e educado esse. Deve ser intelectual. Aceita um conhaque?

 

Esta sopa ficou pronta às 8:13 PM

 

DO ZERO, DO NADA


"Começar de novo, vai valer a pena." Não sei bem de quem é essa, me vem Milton Nascimento à cabeça, mas certeza não tenho. E não vou olhar agora. Mas tenho certeza de que o que a frase diz é verdadeiro e real.
Vantagens de começar do zero, de novo, são muitas. Sem nome, sem muitas visitas, sem muitos comentários. O outro blog já tinha leitores fiéis. Sei que é injusto começar de novo, sem avisar amigos, sem dizer nada a ninguém, mas seria incoerente se fosse diferente. Estou fazendo isso justamente por isso, pela ansia por mais liberdade. Quero ser apenas "o cara da sopa", assim em minúsculas, sem nome, sem sobrenome, sem profissão, sem família, sem amigos. Se você ler o post sobre "o texto, pela sopa que dá" vai entender do que eu estou falando. Eu preciso disso. E em consequência estou disposto a pagar o preço de ser um iniciante de novo, um novo blog. Mais um blog de um cara qualquer. Quero ter leitores de novo, quero muito do que tinha, mas não quero muitas coisas que eram compulsórias. Não quero meu telefone tocando com alguém me perguntando detalhes da minha vida que ficou sabendo pelo blog. Tá certo, fui eu quem escolheu escrever e publicar, mas tem algo de over-invasivo nisso, por mais doente que essa constatação possa parecer. Não quero mais me policiar e ter barreiras que me impeçam de escrever porque esse ou aquele vai ler. Por isso se me perguntarem, no mundo real, porque não escrevo mais, vou sorrir e dar de ombros, simpaticamente. Sinto-me privilegiado por poder encarar isso assim, de alma leve. Mesmo que seja começando do zero, do nada. Assim mesmo, vai ser bom.

 

Esta sopa ficou pronta às 6:31 PM

 

IRRESPONSIBLE FRIDAYS

"Two of us riding nowhere, spending someone's hard earned pay/You and me Sunday driving not arriving on our way back home/Two of us sending postcards, writing letters on my wall/You and me burning matches, lifting latches on our way back home"

Sextas-feiras são assim, irresponsáveis. E nem é culpa delas. Erros inatos do metabolismo dos dias. E que não me venham com sextas-feiras geneticamente modificadas.

"You and I have memories longer than the road that stretches out ahead"

 

Esta sopa ficou pronta às 1:39 PM

 

MANHÃ DE CHUVA

Meu cérebro acorda. Abro os olhos. A umidade da rua invade meus já comprometidos pulmões. Alguma coisa me impede de respirar bem, sinto me sufocar um pouco. Não é só a doença, tem mais alguma coisa pesando nessa manhã de sexta-feira. Demoro menos do que o esperado para cair em mim: é a saudade.
Visto a camisa que ela escolheu, ha alguns meses atrás. Olhando no espelho agora, percebo que é muito bonita mesmo e que nunca mais devo resistir aos seus conselhos. Lembro de ter achado a camisa feia quando ela apareceu na porta do provador com ela na mão e disse: prova essa! Agora, já distante, vejo que por algum motivo essas coisas me confortam. Saber que alguém te conhece tão bem a ponto de saber que no futuro gostarás de algo que à primeira vista não parecia muito aprazível. Mistérios da convivência.
Confortado pela camisa ganho a rua, que chuvosa me recebe alegremente. Chego atrasado. Ofegante. Sem tempo de pegar sequer um café. As pessoas me olham com admiração. Imagino que pensem algo como: "ele nunca se atrasa... que estranho?". Sento-me, atrapalhado e me dou conta que esqueci os documentos. Olho para meu umbigo, literalmente, e vejo as litras do tecido. A camisa que ela escolheu é tão bonita. Já me sinto melhor.

 

Esta sopa ficou pronta às 12:22 PM

 

quinta-feira, março 25, 2004

QUANDO FIZERAM SOPA DE MIM


Por duas vezes já fizeram sopa de mim, sem que eu tivesse força para lutar contra, sem poder deter a faca que me fatiava como aquelas cenouras que o jacaré fatiava nos desenhos do pica-pau. Era sopa de pica-pau. Eu assistia passivo e ria. E assim, mais tarde, fizeram sopa de mim. Eu não consegui rir. Nem rio agora. Ironias.
Não visitei nenhuma tribo canibal, não. Fizeram pior. Quando fazem sopa com a gente o sofrimento é dobrado e incrivelmente a gente acaba sendo forçado a comer a iguaria. Tudinho. Até inclinar o prato. E digerir.
O propósito disso, deve ser desígnio Dele, e compreende daqueles ensinamentos que ficam para a vida toda. Depois que fazem sopa com a gente, que fervem até amolecer a carne, que temperam com lágrimas, a gente muda. Demora, mas muda.
Nas duas vezes que fizeram sopa de mim eu reagi do unico jeito que sabia: gritando, esperneando e me punindo às escondidas. Reações estranhas que desenvolvi em algum momento dessa vida, em algum ponto em que aprendi (talvez erroneamente) que ser homem é não reagir assim. Pelo menos não em público. Então a pose de forte sempre chega antes. As lágrimas da criança depois, no escuro de mim mesmo, às escondidas. O sabor foi sempre amargo, e quando lembro, ainda posso sentir o desagrado no dorso da lingua. Mas a sensação de ter sobrevivido não tem preço. Nas próximas vezes que quiserem fazer sopa de mim, vou ser menos resistente. Afinal, depois que tudo passa, a gente vê não o resultado tão ruim assim. Talvez por isso, quando disserem que você não cozinha mais na primeira fervura, tome como um elogio. Quer dizer que já fizeram sopa com você e você sobreviveu.
Ficou com um gosto amargo?

 

Esta sopa ficou pronta às 4:21 PM

 

O TEXTO, PELA SOPA QUE DÁ


Nada mais que o texto pelo texto. Pelo seu caldo, gosto e sumo. O texto que pode ser espremido ou não. O texto livre de amarras, solto, nem sempre leve, mas solto. Sinto saudades de muitas coisas, e uma delas é essa mesmo. O texto solto. Esse texto aqui, por exemplo, está solto, é solto, é livre. Você interpreta se quiser, mas o que eu realmente quero dizer está aqui, dentro de mim. Poucas pessoas vão entrar nesta exata sintonia e captar o que realmente isso quer dizer. E talvez muitos percam tempo pensando no que está não dito. O não dito, meus amigos, está para sempre perdido. Por isso gosto da palavra escrita (ou dita), com todos os arrependimentos e o peso que lhe acompanha. Só que as coisas não precisam pesar tanto, porque existe o texto solto. O texto solto... ah, esse sim tem um sabor diferente. Sem amarras, sem julgamentos, sem antes ou depois. O texto pelo texto. Esse sim é foda!

 

Esta sopa ficou pronta às 4:05 PM

 

SEM SOPA


Ás vezes a gente se sente importante. Como criança que vai ao quadro negro a pedido da professora resolver o exercício e mesmo tremendo de medo de errar, enfrenta os monstros e vai em frente. Resolver problemas hoje é diferente. A sensação é boa. Lembra a infância. Mas também é estranho, porque não temos todas as respostas e diferente de quando somos pequenos, acabamos desperdicando um bocado da energia tentando esconder nossas fraquezas ao invés de realmente potencializar nossas capacidades e lutar contra o monstro. O reconhecimento na vida adulta é, então, menos frequente, mas tem um sabor melhor, porque sabemos que fomos, além de intelectualmente capazes, bons atores, pois fingimos bem que não tinhamos nenhuma dúvida sobre o assunto.
Pensando bem, resolver a raiz quadrada de 142 no quadro negro era sopa, comparado com o que temos que encarar vinte anos depois. Se a gente soubesse que monstros existem.

 

Esta sopa ficou pronta às 2:17 PM

 

SOPA DE PEDRA


Se fazem ate sopa de pedra em Portugal, porque não fazer sopa de mim aqui? Até acho que a carne é de boa qualidade e que apesar da idade ainda dou um caldo...
Se bem que hoje, neste momento, tô mais pra dar errado mesmo. Ou quem comer dessa sopa vai acabar doente. Sabe-se lá...
Estou com uma gripe monumental. Cheguei no trabalho ansiando por água e os reservatórios estão vazios. Quem diria? Agora vou ter que ir achar um lugar que venda água por aqui, porque estou desidratado e preciso de pelo menos um golinho pra tomar meus remédios. Porque no seco não consigo, a garganta dói.
Uma sopinha agora vinha bem.

 

Esta sopa ficou pronta às 12:30 PM

 

A PRIMEIRA SOPA


Cansado de ser eu mesmo, resolvi me cortar em pedacinhos, aos poucos, e mergulhar em água fervente, pra ver se dá sopa. Adianto que em certos dias a sopa será saborosa, às vezes exótica, e em outros amarga ou insossa. O ingrediente é sempre o mesmo, mas o sabor é instável. Quem sabe eu descubro nesta experiência o que me faz mudar de sabor.

 

Esta sopa ficou pronta às 12:33 AM

 



SOPA






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