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terça-feira, maio 11, 2004

ESTRANHEZAS

Se conheceram há anos. Sabem cada pedacinho do outro de cor. Conhecem o cheiro, sabem que gosto tem, que gostos tem, que sons aprazem, que sabores satisfazem. Sabem como chamar de manhã cedo, mesmo que seja muito cedo, o tom de voz exato. Como dizer que 'não' sem magoar, como convencer o outro da mais estranha das teorias sem muitos rodeios. Sabem fazer rir como ninguém. A dose ideal de humor, o timing perfeito. Conhecem os barulhos, interpretam suspiros com exatidão e mais que isso tudo, sabem entender a língua do silêncio, os olhares e os significados por trás das ações um do outro como ninguém mais. Ninguém mais, nem nunca. Se conhecem há anos e se conhecem muito bem. Se conhecem como poucos um dia chegarão a conhecê-los. Isso é fato.

Mas o que explica então as estranhezas? Duram pouco, duram minutos, mas existem, estão ali, concretas como nada mais. Eles se vêem depois de meses vividos longe um do outro, a uma distância desumana. Meses de conversas pelo telefone, de e-mails diários e de muitas, muitas saudades. Se vêem e percebem, antes de qualquer coisa, aquela sensação perturbadora, levemente desagradável e muito, muito familiar depois de um ano e meio de idas e vindas: a estranheza.

Uma estranheza passageira, travestida de uma inseguraça sabidamente idiota e infudamentada mas mesmo assim perturbadora. A lógica perde o sentido, afinal eles estão ali porque se amam, porque querem se ver, porque apesar de estarem cheios de amor próprio e felizes, falta sempre aquele pedaço, aquela pessoa com quem compartilhar as coisinhas do dia-a-dia, aquele abraço apertado, aquele colo aconchegante e mesmo o silêncio que basta por si só. É ilógico, já disse, mas é concreto. Está ali, entre os dois: a estranheza.

Como um fantasma ela toca ambos e materializa a ansiedade e aquele nó na garganta em si própria. Mas do mesmo modo como ela chega, sorrateira e veloz, ela é aplacada ao mais breve toque dos corpos. O encontro real daqueles que se amam e devem permanecer juntos enquanto o amor durar, enquanto a mágica existir e enquanto a estranheza, que afinal não é de todo ruim, fizer voar borboletas no estômago de cada um dos dois.

 

Esta sopa ficou pronta às 9:00 PM

 



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