Eu estava na casa da praia. Cheguei do trabalho num fim de tarde e `a primeira vista nao encontrei meu cavalo. Depois vi que meu irmao vinha com uma noticia ruim, fiquei nervoso. Meu cavalo estava dormindo e fora acordado abruptamente por algum desavisado. Em consequencia, sofrera um espasmo e estava muito mal. Meu proprio cavalo estava `a beira da morte por causa de uma situacao absurda, algum desinformado que nao sabia que nao se pode acordar cavalos adormecidos. Embaixo da mesa pude ver o pobre animal sofrendo, como se estivesse tendo uma caibra horrivel. Deitado e encolhido ele me observava como quem pedia ajuda desesperadamente mas silenciosamente. O restante da noite foi em busca de ajuda, de um veterinario que entendesse do assunto, de uma solucao para a dor do bichinho ja que a hipotese de sacrifica-lo estava fora de cogitacao. A angustia tomava conta de mim e a responsabilidade por tomar uma decisao definitiva me assolava. A cada nova opiniao, mais claro ficava que a melhor solucao era sacrificar o pobre.
Aos poucos comecei a me dar conta de que eu na verdade nunca tinha dado um nome ao cavalo. Ele era branco, com cascos pretos e postura imponente. Mas nao tinha nome. Depois vi que o fato de o cavalo estar deitado embaixo da mesa, por mais doente que estivesse, era estranho. Adormeci entre esses pensamentos.
Fui acordado pela luz do sol na janela e percebi que estava atrasado para a largada da maratona. Desisti de minhas divagacoes, calcei meus tenis e sai em direcao a largada. Corri os primeiros cinco kilometros sem pensar em nada alem do cavalo e talvez por isso tenha me distraido e saido da rota, tendo chegado na linha de chegada antes do primeiro colocado. Quis disfarcar e fingir que nao estava participando, mas a camiseta com o numero na frente e o logotipo da maratona nas costas me denunciava. Estranhamente eu tinha as duas maos ocupadas. Eu queria largar aqueles objetos mas nao tinha uma mesa sequer ao meu alcance. Comeco a achar tudo muito estranho. Nao consigo identificar o que sao aqueles objetos, talvez pela estranheza que me causem. Alem disso eu nunca tinha corrido uma maratona e acabara de correr minha primeira (ou parte dela) sem dar muita importancia ao evento. Continuava absorto na ideia de sacrificar o cavalo. Olhei para as minhas maos e vi que empunhava um prato de louca branca quadrado e um garfo de aco inox escovado muito bonitos.
Era o que eu precisava. Abri os olhos e consegui entender quase tudo desse sonho cheio de vestigios do dia anterior: Minha corrida diaria, as funcoes do casamento (incluindo as ideias de loucas e talheres...), as decisoes dificeis. O sol que entra pela minha janela e quase me tira do sonho as cinco e meia da manha. So nao achei explicacao para esse cavalo branco que eu nunca tive.
Esta sopa ficou pronta às
1:32 PM