Minha sopa. Olá. Quem sou eu? Sou o cara da sopa. Já nem sei mais se sou um cara normal. Sou, com certeza, um cara comum, mais um. Acho que já não posso ser considerado muito novo, não cozinho mais na primeira fervura, mas também não sou muito velho ainda. Pelo menos pensar isso é agradável. As idéias, as de hoje pelo menos, ainda estão na cabeça. As de ontem não sei onde foram parar. Apesar de ser interessante acreditar que escrevo porque me dá prazer, já penso que escrevo quando me sinto sozinho. Apenas mais uma mídia. Estou em algum lugar, que não vem ao caso e neste momento posso estar, ou não, comendo sopa. Prove e me diga o que pensas. Mas vá com calma que a sopa pode estar quente, ou fria, ou não ser do seu agrado. Seja camarada. E lembre-se, é sopa, só sopa, nada mais. Não estrague o seu dia por causa da sopa.
Ontem comprei 3 dvds. Era uma promoção, três títulos ficavam baratinhos, sete mangos cada. mas tinha que levar três. Comprei a primeira temporada do Simple Life pra rir de novo. Comprei Jogos, trapaças e dois canos fumegantes. Filmão. E comprei uma bomba chamada monte pyton e o sentido da vida. Argh... não sei como aguentei olhar até o fim. Achei que estava levando algo no estilo do clássico o cálice sagrado, mas nada... é uma bomba de tão ruim. A sequência final então, no restaurante me fez ficar mais enjoado do que já estou. Estou passando adiante...
E agora, senhoras e senhores, me preparo pra mais raio! Lá vou eu...
Sou meio criança quase o tempo todo. Disfarço um pouco, sempre que necessário, mas em geral não escondo muito isso não. Acho que por isso acabo enfrentando algumas coisas na vida como criança, ignorando o perigo, achando que não é nada muito sério, mas isso já outro assunto. (Que tem a ver com o modo como as crianças pequenas lidam com o câncer por exemplo, imunes ao medo que nos é ensinado com o passar dos anos.)
Não era disso que eu queria falar.
Ontem fui no circo. Um dos meus sonhos era esse, ir assitir ao vivo a um espetáculo do Cirque du Soleil. Por incrível que pareça, mesmo sendo um circo canadense, não existem espetáculos fixos aqui, apenas em Las Vegas e Orlando, então a gente tem que esperar o circo chegar na cidade.
Pois o Circo chegou com o espetáculo Alegría. Não sei se tenho palavras pra descrever o que se desenrolou em frente aos meus olhos. Por fora é apenas um circo, com lona e picadeiro. Por dentro é um espetáculo dos mais lindos que eu já assisti. Tínhamos ingressos ótimos, na primeira fila, e podíamos ver cada detalhe com perfeição. E posso dizer que tudo é incrivelmente bem feito, perfeito. Das expressões dos artistas à música, ao vivo, com uma cantora com um vozeirão daqueles que chega a te fazer parar de olhar para o picadeiro para vê-la cantar.
O espetáculo te deixa boquiaberto, faz e rir e faz chorar com o palhaço triste, que perde seu amor e chora sob neve ao ler o bilhete de despedida. Sim, cai neve e sopra uma ventania impressionista dentro da lona do Cirque du Soleil. E a platéia de boca aberta. Extasiada.
É um circo de grandes artistas, altamente teatral, lindo e muito técnico sem ser tecnológico demais. É um circo feito por gente e que faz a gente ter orgulho de ser gente e acreditar que o mundo tem solução. Perfeito. Quando puder, não perca a oportunidade de vê-los.
Conversavamos qualquer dia desses sobre como é melhor ser burro mesmo, não saber das coisas, porque isso evita um monte de sofrimento. Tem gente que passa pela vida assim, sem sofrimento, sem envolvimento, sem comprometimento, por pura ignorância.
A pergunta é: é melhor ser assim mesmo, ou é melhor saber das coisas, mesmo que com isso venha todo aquele sentimento de impotência que permeia as mentes de todos os que entendem e consequentemente sabem das suas limitações?
Como seria viver como uma carpa num lago congelado, adaptada ao ambiente frio, sem ver nem ouvir nada do que se passa na superfície, vendo apenas resquícios da luz do dia ou do brilho da noite através da espessa camada de gelo que recobre o seu mundo?
O que acontece, pelo menos como eu vejo, é que a gente quer tudo que tem de bom na vida, e querendo saber mais sobre o que tem de melhor na vida, luta contra o filtro de ignorância que poderíamos ter escolhido manter em algum momento da nossa vida, caso soubessemos como era viver entendendo.
Complicado?
É disso que eu estou falando...
"(...) a koi in a frozen pond."
rem - imitation of life
Acabei de achar minha bola de gude de estimação. Andava perdida há dias e achei ela no fundo de uma gaveta. Metáforas da vida...
Tô com dor de barriga, mais um sintoma dos raios que me partem. Os raios que se partam... Hoje o oncologista me disse que a dose de radiação que eu estou levando é bem baixinha. Aha...
Pegou fogo no prédio onde trabalho. Evacuamos (e eu com dor barriga) o andar. O fogo não queimou quase nada, só um pedacinho do porão. E eu com dor de barriga.
Minha bola de gude está aqui agora, me olhando. Pequenas felicidades do dia-a-dia.
Pergunta: vocês já viram o tamanho da língua do Pug?
Acabo de ver que as estimativas de produção ilegal de pinga no Brasil, segundo o ministério da Agricultura, lá nos idos de 1996, era de cerca de 1 bilhão de litros por ano. Isso dá cerca de 3 litros de álcool puro (100% mesmo) por cabeça, por ano (isso contando só os viventes em idade "i"legal pra beber) . Ou seja... o povo se acaba mesmo. Essa contagem se soma aos cerca de 5 litros por cabeça calculados a partir da produção legal de bebidas alcóolicas no Brasil e não conta a imensa produção de "vino"ali de "Cassias", "Bento" e arredores e de "malzbier" ali dos "alemon" mas de baixo da serra...
Isso me lembrou Ary Barroso e a memorável composição Na Batucada da Vida, lá nos anos trinta... que diz muito do que acaba sendo mostrado pelos dados epidemiológicos... é a arte retratando a vida.
Um país que tem Luana não precisa de circo. A mulher é uma atração mutante e infinita. E o Duek ainda acha que ela é uma boa garota propaganda pra sua marca. Ele devia estar bêbado quando disse sim. Ou quer cometer harakiri mesmo. Vai acabar se enforcando com um jeans de 280 reais.
Das coisas que me fazem feliz, esta é uma das primeiras da lista. Estou falando de coisas, não de pessoas, ok? Então entre isso e qualquer outra coisa, vou preferir isso. Se me pedirem pra escolher entre nunca mais comer uma pizza e isso, vai-se a pizza. Entre convites ilimitados para festerês animados e descolados, cheios de gente bacana e música legal e ter que abrir mão disso para todo o sempre, vou passar os convites. Obviamente. Entre um livro bem escrito e isso, apesar de eu adorar livros bem escritos, vou escolher isso. Um chef cozinhando na minha casa três vezes por semana e isso? Fico com isso. Entre todos os livros de fotografia já feitos e isso, vão-se os livros. Com uma dor no coração, mas vão-se. Brinquedinhos eletrônicos, maquininhas, computadores... Penso mesmo, pondero, e passo a bola. Não vivo sem isso. Sou viciado nisso. Isso faz meu dia feliz, limpa minha mente, me leva pra longe da realidade (que muitas vezes é tão boa, não entenda isso como uma reclamação). Isso é a minha droga e acho que em poucos momentos me sinto tão absorto. Isso me fascina e eu agradeço infinitamente a genialidade de Auguste e Louis Lumiere. Merci monsieurs!
Eu sou um inconstante irremediável. Um planejador inconstante. Triste sina. Uma hora quero mudar o mundo, faço planos, me armo e vou a luta. Na primeira esquina já me distraio e esqueço o que estava indo fazer. Me perco na primeira conversa animada, na vitrine colorida, na banca de revistas. Compro alguma coisa que não preciso, esqueço minhas armas no jardim da senhora simpática que me ofereceu um chá de marcela pra curar meu enjôo e quando dou por mim, estou fazendo uma lista de compras pra um jantar que acabei e organizar depois de receber um telefonema de um amigo. Mudar o mundo? Isso! Era isso que eu ia fazer!
Sou um empolgado de plantão. Acho que essa é a melhor definição. A incostância é uma mera interpretação despretenciosa dessa empolgação ligeiramente impulsiva. Eu faço uma coisa, estou feliz ali, vem alguém e me convida pra fazer outra, me diz meia dúzia de palavras sedutoras e eu vou. Achando que aquilo é a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Até finalmente a realidade me chamar num canto e me dizer entre dentes: ''Ei amigo... lembra dos seus planos?"
Com os anos tenho aprendido a me domar, a me controlar ou a me podar, como preferirem. Aprendi a conviver comigo mesmo e a voltar atrás, o que é muito importante pra um cara cabeça dura como eu. Acho que viver faz a gente aprender a se entender. E quem se entende funciona melhor.
Coisinhas:
Ando desconfiado do orkut
Tô achando comida indiana muito boa.
Acabei cercado de gente muito legal, e isso me deixa muito feliz.
Os enjoôs estão bem menores.
Ainda sim, tive um verão de planos, sustos e mudanças. Terei um outono de enjôos, mas espero que o inverno venha de mansinho e não me prepare mais nenhuma. Acho que 2004 já está de bom tamanho, não?
sobre o título: sou eu, de novo quebrando a promessa de não escrever mais sobre mim.
Entre uma idéia e outra, me parecia que aquela doença era meio que uma piada, uma brincadeira. Nada mais do que isso. Até o dia em que os malditos raios começaram... O que parecia ser inofensivo, invisível, incolor e inodoro, em verdade não tinha nada a ver com água ou ar. Era uma coisa ruim, que apesar de estar ali por um propósito bom me fez pensar, pela segunda vez, que eu estava realmente doente. Depois das boas semanas quase sem pensar em câncer no Brasil, agora me sinto um caco velho. Um caco velho fraco nauseado, tonto e com ânsias de vômito que não me deixam nem pensar em comida. Malditos - benditos - raios!